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Durante muito tempo, e ainda hoje, profissionais de saúde e instituições médicas desatualizadas diziam às gestantes que não era possível ter um parto normal ou natural com uma cesárea prévia. Hoje, entretanto, já temos evidências científicas suficientes para saber que sim, é possível, e dar mais orientações sobre o assunto. Veja!

O que é VBAC?

VBAC é a sigla em inglês para “Vaginal Birth After Cesarean”, que em Português significa “parto vaginal após cesárea” e, como o próprio nome diz, faz referência aos partos normais de mulheres que já tiveram uma cesárea anterior. No Brasil, embora continue sendo a sigla mais conhecida, já cunharam a sigla PVAC para referir à expressão traduzida.

 

O termo VBAC foi cunhada em 1983 pela parteira estadunidense internacionalmente conhecida Nancy Wainer, também autora de diversos livros sobre prevenção das cesáreas desnecessárias. Nancy Wainer publicou seu livro “A faca silenciosa: prevenção da cesárea e parto vaginal após cesárea” (Silent Knife: cesarean prevention and vaginal birth after cesarean) em 1983. O livro não só foi escolhido como melhor livro na área de Saúde e Medicina pela American Library Association, como também foi chamado de “a bíblia da prevenção de cesarianas” pelo The Wall Street Journal.

 

No Brasil, o termo demorou a ser adotado e ainda hoje a prática encontra resistência no meio médico, que continua instruindo mulheres com uma cesárea anterior a ter outras cesáreas, seguindo na contramão das recomendações da Organização Mundial de Saúde. 

 

Agora, a pergunta de milhões…

É possível ter um parto normal após cesárea?

Sim, é completamente possível e seguro ter um parto vaginal após cesárea anterior para a maioria das mulheres, sendo a taxa de sucesso superior a 85%. Aliás, segundo a renomada Instituição Fiocruz, o parto normal após cesárea (VBAC ou PVAC) é a opção recomendada no Brasil e no mundo. Só é preciso ter um acompanhamento e monitoramento cuidados para acompanhar a saúde gestacional da mulher e o desenvolvimento do feto.

Uma vez cesárea, sempre cesárea?

Talvez você já tenha ouvido essa frase, mas será que é verdade?

 

O conservadorismo no meio médico vem de longa data, para o azar das mulheres que seguem sendo as mais afetadas pela desatualização científica dos profissionais que atuam na assistência ao parto.

 

Essa mentira, repetida aos quatro cantos nos hospitais públicos e privados do mundo todo até ser tomada como verdade, foi contada pela primeira vez no século passado, em 1916, pelo médico estadunidense Dr. Edwin B. Cragin. Para termos uma noção de quão desatualizado é esse conceito, Edwin Cragin atuou como médico ginecologista nos finais de 1800 até meados de 1900. Para a sorte das mulheres, a ciência e a obstetrícia evoluíram muitíssimo desde então.

 

Edwin escreveu um artigo chamado “Conservadorismo na Obstetrícia”, no qual lista suas recomendações e boas práticas na obstetrícia e ginecologia. Embora muitas das suas contribuições tenham sido importantes para uma melhoria da área e da assistências às mulheres como o mero detalhe de recomendar aos cirurgiões e médicos que deviam utilizar luvas esterilizadas e lavar as mãos antes de cada atendimento, algo que não era prática comum na época e que resultava em um grande número de infecções transmitidas dos médicos para as pacientes durante o atendimento , é do livro que vem a fatídica frase “Uma vez cesárea, sempre cesárea”.

 

Adotado pelas principais instituições de renome da época e propagada mundo afora, o jargão de Cragin rapidamente se tornou uma “verdade inquestionável” até os dias de hoje, mesmo com as evidências científicas (e inúmeros VBACs) recentes em contrário.

Uma vez cesárea, sempre parto hospitalar?

Nos últimos 30 anos, o mito de “uma vez cesárea, sempre cesárea” tem sido substituído pelo novo mito “uma vez cesárea, sempre parto hospitalar” (ver: “Outcome of vaginal birth after caesarean section in women with one previous section and spontaneous onset of labour” em Eastern Mediterranean Health Journal, World Health Organization).

 

Se, por um lado, hoje sabemos que isso também é um mito, e que VBACs também podem acontecer em casa (como o nascimento da Clara, num lindo parto domiciliar na água VBAC, que eu própria doulei na cidade de Várzea Grande, em Mato Grosso), por outro lado devemos ver com bons olhos o fato de que a ciência tem cada vez mais esclarecido as áreas obscuras que induziam mulheres a partos inseguros pelo medo de perder seus filhos e sofrerem complicações de saúde.

 

Hoje, sabe-se que é possível ter um parto domiciliar planejado mesmo tendo uma ou duas cesáreas anteriores. Tudo depende das condições de saúde da gestante e sua gravidez e da assistência à gestante do que propriamente do local de parto.

 

Um estudo chamado “Resultados de partos naturais planejados em casa após cesárea (HBAC)” publicado na revista Oxford Population Health, do Reino Unido, pela investigadora Jennifer Hollowell, em 2014, descobriu que:

 

► Mulheres que planejaram um VBAC em casa tinham chances significativamente mais altas de ter um parto vaginal comparativamente àquelas que planejaram um VBAC em uma unidade hospitalar;

 

► Em ambos os cenários (domiciliar e hospitalar), o número de resultados adversos era baixo, mas não negligenciável. Os resultados maternos adversos graves ocorreram em cerca de 2-4% dos nascimentos e proporções semelhantes foram observadas nos bebês nascidos em unidades neonatais;

 

 

Ou seja, mesmo tendo tido uma ou duas cesáreas anteriores, não só é possível como também é seguro ter um parto vaginal, seja normal ou natural, no hospital ou em casa. Os riscos, contrariamente ao que se possa pensar depois de décadas de mentiras tornadas verdade, são os mesmos, e a taxa de sucesso pode ser maior em casa, na verdade.

parto bebe recem nascido

Parto Vaginal Após Cesárea (VBAC) e risco de Rotura Uterina

A rotura uterina é um dos argumentos que, embora reais, é rotineiramente utilizado para assustar mulheres grávidas com uma cesárea anterior e fazê-las desistir do seu sonhado VBAC.

 

Chama-se rotura uterina ou ruptura uterina o rompimento dos músculos do útero, sendo mais observada em mulheres com cicatrizes no útero devido a cirurgias prévias no órgão.

 

A rotura uterina pode ser causada por muitos fatores, entre eles: gestação múltipla, endometriose, miomas no útero, curetagem prévia, ferimentos na região abdominal, entre outros.

 

Apesar de ser uma complicação obstétrica grave, as chances de acontecer uma rotura uterina são extremamente baixas, acontecendo apenas em torno de 0,5 a 1% dos casos e, nalguns casos, nem sequer ocorre no parto, mas ainda durante o terceiro trimestre da gestação. Mesmo para mulheres com duas cesáreas anteriores, a chance ainda está abaixo de 2%

 

Além de ser extremamente rara, é importante frisar que, como tudo no parto, a rotura uterina não acontece de uma hora para outra: é possível “antecipá-la” através dos sinais manifestados durante o trabalho de parto, daí a importância de um acompanhamento e assistência cuidadosos. 

 

Segundo Carla Polido, Médica Obstetra e Professora Adjunta do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos:

 

“A mulher vai dar sinais de distensão uterina, como a sensação de desconforto. O desconforto é diferente da contração uterina, pois o desconforto persiste durante o intervalo das contrações. Também, ao colocar a mulher em decúbito dorsal horizontal, percebe-se uma corcova, um afundamento, uma divisão visível entre o fundo uterino e o segmento inferior (“útero em ampulheta” pela visão frontal e “útero em corcova de camelo” na visão lateral).” [entrevista ao portal Fiocruz]

Dúvidas frequentes sobre VBAC/PVAC - Parto Vaginal Após Cesárea

Se ainda tem dúvidas sobre parto vaginal após cesárea (VBAC), veja abaixo as respostas para algumas das questões mais comuns entre gestantes.

O parto vaginal após cesárea (VBAC / PVAC) pode ser oferecido à maioria das mulheres que estejam gestantes de apenas um feto, com apresentação cefálica a partir das 37 semanas ou mais, que tiveram cesáreas anteriores de baixo risco, tenham tido ou não um parto vaginal anterior.

O VBAC não é recomendado para mulheres com rotura uterina anterior ou com cicatrizes no útero decorridas de cesáreas prévias, como também às mulheres que tenham qualquer contra-indicação absoluta ao parto vaginal, independentemente de terem ou não cicatrizes ou gravidezes anteriores.

Normalmente, a recuperação de uma cesárea é mais lenta e demorada que a de um parto normal, dada a complexidade da cirurgia. A incisão feita no útero para retirar o bebê pode levar cerca de 6 a 10 semanas para cicatrizar por completo. Contudo, os pontos externos cicatrizam mais rápido e normalmente caem por volta da segunda semana após o parto.

O resguardo da cesárea também pode demorar mais que o do parto normal, com os médicos geralmente recomendando 40 dias de repouso. Contudo, fazer sexo e engravidar são duas coisas completamente diferentes. Os especialistas recomendam aguardar no mínimo 6 meses para voltar a tentar uma nova gravidez.

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