Bullying é o verdadeiro bicho-papão da infância e reflete preconceitos que podem afetar a saúde mental e a vida escolar dos nossos filhos. Falar sobre bullying em casa pode ser o primeiro passo para combatê-lo.
“Mãe, o que é bullying?”, perguntou o meu filho. A minha resposta foi um misto de “Ahhh..” e “Hmmm” e “Bullying é….”. Mas deixa eu contar essa história direito.
Uma segunda-feira qualquer há poucos dias atrás. Eu estava trabalhando em casa com meu filho ao meu lado (obrigada, pandemia!) quando a campainha da minha porta soou. Era um voluntário da Anistia Internacional, uma organização de direitos humanos, pedindo contribuições. Para justificar o pedido de contribuições, o rapaz uniformizado me explicou algumas das intervenções e programas que eram realizados pela organização utilizando o dinheiro dos apoiadores.
“Que idade tem o seu filho?”, ele perguntou. “Sete”, disse o meu pequeno, espiando atrás da porta com o corpo escondido. “Agora provavelmente não, porque é muito pequeno ainda, mas é provável que daqui a poucos anos, quando estiver na escola, ele participe de uma das nossas ações de conscientização sobre bullying na escola, por exemplo”, explicou o voluntário.
O rapaz foi embora e meu filho, mais que rápido (como sabemos, a curiosidade da criança opera à velocidade da luz), lançou o debate: “Mãe, o que é bullying?“. Então vamos falar sobre Bullying.
Explicando o bullying com vídeos
Com receio de dar uma explicação com informações a mais e dado que precisava voltar ao trabalho, pesquisei rapidamente no YouTube um vídeo pedagógico e curtinho que tivesse sido feito especificamente para explicar bullying para crianças. Nós vimos dois:
O primeiro vídeo é uma animação que retrata uma situação escolar. Nela, um menino recém-chegado na escola aparece triste e isolado do resto da turma, sendo alvo de comentários depreciativos sobre sua aparência e também de bullying físico. A protagonista é uma menina que se junta a ele e confronta os bullies, explicando que o que fazem é errado.
Já o segundo é um vídeo feito pelo Senado Federal em 2015 para explicar um projeto de lei que tipificava 8 tipos de bullying:
- bullying físico
- bullying psicológico
- bullying moral
- bullying verbal
- bullying sexual
- bullying social
- bullying material
- bullying virtual
É bastante direto e representativo, com desenhos animados que facilitam a compreensão da mensagem para crianças.
A importância de falar sobre bullying com nossos filhos
Quando meu filho perguntou “Mãe, o que é bullying?“, eu podia simplesmente dar uma resposta mais ou menos objetiva e finalizar a conversa. Mas era um debate importante que eu não podia fazer de espírito leve, não com o meu filho. Vou explicar por quê.
Meu filho é uma criança de 7 anos autista e com deficiência visual. Por ter nascido com uma catarata congênita em ambos os olhos, ele usa óculos desde os 4 meses de idade e desenvolveu estrabismo e nistagmo (movimento involuntário dos olhos). Por causa do autismo, também tem alguma dificuldade em entender os turnos de conversação e pode formular frases de uma forma diferente às vezes. Ele é um potencial alvo de bullying e eu sempre soube disso.
O bullying na escola é um obstáculo na vida de muitas crianças. E ela pode afetar não só o aprendizado e o desempenho escolar, podendo levar até ao completo abandono escolar e desistência dos estudos. O bullying afeta a saúde mental da criança, a autoestima, o seu desenvolvimento pessoal e emocional, as suas relações sociais e pode respingar até na família. Isso é seríssimo.
Segundo um estudo realizado pela OCDE, o bullying no Brasil é duas vezes maior que a média internacional.
Fonte: O Globo
Criando crianças interventivas
Depois da explicação e dos vídeos, veio a resposta que eu já esperava e, mesmo assim, meu coração se doeu em ouvir. “Mãe”, disse meu filhote com a voz titubeante, “eu acho que meus colegas fazem bullying comigo na escola”.
Quando quesitonei por quê ele achava isso, meu filho foi elencando uma série de comportamentos e situações. Claro que nem todos se enquadravam como bullying, alguns eram apenas comportamentos que ele não gostava (como, por exemplo, não torcerem para ele num jogo à hora do recreio). Outras situações, entretanto, envolviam bullying moral e físico recorrentes.
O que eu poderia responder para um desabafo desses? Que algumas crianças eram naturalmente más? Que ele deveria fazer igual para revidar? Dizer “conta ao professor” e lavar as mãos?
A única explicação mais humana que consegui dar foi que crianças muitas vezes repetiam o que tinham aprendido em casa ou situações que tinham passado sem pensar como aquilo afetava o outro. E que todos podiam aprender e mudar.
“Filho, o que você acha de falarmos com o professor para conversar com todos os amigos da sala sobre Bullying? Você acha que isso ajudaria?”, sugeri. Ele acenou que sim e combinamos propor o tema ao professor na volta às aulas.
A melhor forma de combater o bullying, é claro, é falarmos desde cedo com nossos filhos sobre respeito, diferenças, consentimento e diversidade. Assim, educamos ativamente na prevenção do bullying, invés de termos de agir reativamente, que foi o que eu tive de fazer, pois a situação já estava acontecendo antes da conversa.
Livro infantil para ensinar respeito às diferenças
Contado esta ocorrência completamente banal do nosso cotidiano, lembrei de um livro que meu filho tem e que é um excelente material para ensinar às crianças sobre respeito às diferenças e diversidade.
É um bestseller de literatura infantil, de um autor e ilustrador chamado Todd Parr. Aqui em casa, somos todos fãs do Todd e temos uma pequena coleção dos seus títulos.
O livro se chama “Não Faz Mal ser Diferente” e fala de maneira leve, direta e com ilustrações bem grandes e coloridas sobre uma infinidade de temas (bastante sensíveis) que podem ser motivo de bullying ou desconforto para crianças. Como usar óculo, o nariz grande, ser grande demais ou pequeno demais, usar cadeira de rodas… ou ter pais e mães diferentes.
Além disso, o livro é curtinho (o que é ótimo, porque as crianças têm pouco tempo de atenção e as mães têm pouco tempo de lazer hahah!) e tem letras bem grandes, o que faz do livro bastante acessível para crianças com deficiência visual, como o meu filhote!