O que é um bebê arco-íris?
“Bebê arco-íris” é o filho gerado após uma perda gestacional ou o nascimento de um bebê natimorto. O nome “arco-íris” faz referência ao arco-íris que aparece no céu após uma tempestade ou logo após um tempo conturbado e turbulento. O termo se tornou bastante popular nas redes sociais e blogs maternos nos últimos anos e, para muitas, simboliza a cura e a esperança após a perda gestacional de uma criança muito esperada.
Lidando com a tempestade: a perda gestacional
A perda gestacional pode ser uma experiência pesada e avassaladora. Ainda que a gravidez não tenha sido planejada, nada nos prepara para perder um bebê a quem já nos apegamos, para com o qual já desenvolvemos afeto, sonhos e expectativas. O processo de luto de um filho não-nascido é solitário e é um sofrimento invisibilizado.
O tempo de gestação não importa. Perder no início como perder na reta final da gestação pesam na mesma, afinal, o que dói não são os meses, mas a quebra de uma promessa. São as dores da expectativa, dos sonhos, do desejo, de tudo que ficou por viver.
Embora muitas mulheres não saibam, é muito comum ocorrerem perdas no primeiro trimestre na primeira gravidez. Claro, isso não ameniza a dor. E ouvir frases como “ah, mas estava só no início” ou, pior, “ainda bem que não estava muito avançada” não ajuda. Apenas machuca mais e reforça o sentimento de luto.
Geralmente, a cerimônia de velar o corpo e o próprio enterro fazem parte do processo de luto, de compreender, aceitar e processar os sentimentos. Quando ocorre uma perda gestacional, não há nada para “velar” ou “enterrar” – e isso torna tudo mais difícil, pois não há espaço para as despedidas e o processamento desse luto.
Não raramente, também não há apoio social suficiente, quer a nível das leis e do trabalho, quer no seio familiar e dos amigos. As pessoas em volta das “mães de anjo” podem ter dificuldade em compreender o luto de um bebê não-nascido.
Para os demais, que não gestaram, não sentiram o bebê mexer, não falaram com o bebê durante os dias e antes de dormir, que não viram um bebê ao fim da gestação… É como se o bebê nunca tivesse chegado a existir, de fato. Para a mãe, o bebê existe desde o momento em que ela sabe da gravidez. É uma vida dentro dela, que ela sente, que ela alimenta, acalenta, conversa. O processo de luto é como qualquer outro: legítimo, penoso e demorado.

É possível engravidar depois de perder um filho?
Sim, é possível. Seja um caso de aborto, perda gestacional ou bebê natimorto, é possível engravidar novamente, mas alguns fatores devem ser levados em conta.
É exatamente porque o luto de uma perda gestacional ou de um bebê natimorto é como qualquer outro luto que é necessário trabalhar os sentimentos envolvidos nessas situações para poder se preparar, mentalmente, emocionalmente e fisicamente, para uma próxima gestação. O que nos leva à próxima pergunta.
Quanto tempo esperar para engravidar depois de uma perda gestacional?
A Organização Mundial de Saúde recomenda pelo menos 6 meses de espera antes de começar a tentar engravidar outra vez. Contudo, a verdade é que não existe um “tempo certo” ou um prazo. O que existe são muitas variáveis que devem ser levadas em conta, como a saúde mental, a cura, o preparo dos pais, entre outros. Ou seja, esse tempo pode ser muito diferente de uma família para outra.
Uma perda gestacional é um luto como em qualquer outra perda. E, assim como nunca deixamos de amar ou sentir falta de alguém que perdemos, na perda gestacional também isso acontece: aprendemos a lidar e curamos as feridas, mas as marcas ainda estão lá.
Por isso, é preciso passar pelo processo de luto antes de tentar novamente, para não projetar os sentimentos na próxima gestação. É comum que as gravidezes de bebês arco-íris sejam difíceis de lidar emocionalmente e podem envolver sentimentos de dor e culpa misturados com a sensação de alívio, excitação e euforia. Ou seja, um turbilhão de sentimentos aparentemente opostos e contraditórios difíceis de controlar.
É importante dar-se espaço para processar todas essas emoções, contando com o apoio do seu parceiro e buscando ajuda de profissionais como terapeutas, psicólogos e ginecologistas. Além disso, pode ser uma parte importante do processo de cura poder se conectar com outras mães de anjo, ou seja, mães que também tenham sofrido perdas.
Da perspectiva da saúde e ciência, mulheres que já sofreram perdas gestacionais têm mais chances de desenvolver depressão e ansiedade pós-parto. Idealmente, além de ter o apoio do obstetra ou obstetriz e, se possível, uma doula, vale a pena também recorrer à ajuda de uma psicóloga para trabalhar a saúde mental e expressar as emoções ao longo da gestação.

Medo de engravidar e perder novamente
A tristeza e a ansiedade deixadas pela experiência de perder um filho antes de uma gravidez arco-íris quase sempre traz junto o medo de engravidar e perder novamente. Que é mais que natural, é expectável.
Agora, não é por ser natural que é um sentimento fácil de lidar ou que possamos simplesmente ignorar e fingir que não existe. Devemos, sim, reconhecer e trabalhar esse medo de modo a superá-lo, para não projetarmos essa ansiedade no bebê arco-íris.
Essa não é uma tarefa fácil e pode levar tempo. Idealmente, deve ser feita com acompanhamento profissional: não existe nada melhor do que ser apoiada por quem é formado e preparado especialmente para isso. Embora o apoio da família e dos amigos seja igualmente importante, devemos reconhecer a limitação das pessoas à nossa volta, que nem sempre sabem como lidar com a questão ou não compreendem sequer o que sente uma mãe de anjo na sua gravidez arco-íris.
Mas não se esqueça: a perda gestacional, assim como a gestação arco-íris, não são um evento. Nem um acontecimento. São uma jornada. O acompanhamento de um especialista dedicado à sua saúde e aos seus sentimentos são insubstituíveis.