Quer aplicar o método Montessori em casa e não sabe por onde começar? Veja quatro dicas para tornar a sua casa mais montessoriana e ajude sua criança a desenvolver a autonomia!
O Método Montessori
O Método Montessori ou Método Montessoriano, desenvolvido pela médica e pedagoga italiana Maria Montessori, revolucionou a educação, a pedagogia e, podemos ousar dizer, revolucionou o mundo para as crianças!
Ela foi a primeira a trazer para a educação a crítica de que o ambiente era um obstáculo para o desenvolvimento da criança. Todos queriam crianças independentes e autônomas, mas o mundo era feito por e para adultos, de modo que a criança tinha sempre que pedir ajuda ou estava sempre exposta a riscos desnecessários.
E ainda que o Método Montessori seja reconhecido pela sua pedagogia, a verdade é que vai muito além de móveis baixos na escola ou um quarto montessoriano para o bebê em casa. Na verdade, Maria Montessori estudou profundamente, com base em observações científicas, o desenvolvimento da criança ao longo da infância. Ela identificou as necessidades, os estágios comuns e pensou um método que é mais do que pedagógico, é sobre as relações humanas.
Aliás, tanto é verdade que, em sua obra, Montessori fala sempre de uma “educação para a paz” e para o “Novo Mundo”. O modo de conviver, educar e criar a criança é uma forma de mudar o mundo, porque a criança é a experiência de um futuro melhor para a sociedade. Uma nova chance. E qual é a primeira referência de educação e relações sociais de toda criança? A família!
Por isso, podemos falar com toda a certeza que não só é possível como é recomendado aplicar o Método Montessori em Casa. E não é preciso gastar horrores com móveis planejados não, hein! Afinal, a maior e mais importante mudança aqui é a de postura sobre como vemos e tratamos a criança. E o ambiente… Bem, basta umas arrumações. Veja só!
1 - Pare de Interromper a Criança
É importante reafirmar que a mudança mais fundamental para realmente viver o Método Montessori em Casa é a mudança de atitude. “Não interromper a criança” parece uma sugestão tão simples que quase soa descabida, mas vai descobrir que é, talvez, a mais difícil de todas.
Adultos interrompem crianças o tempo todo. O-tempo-todo. Quando elas estão brincando, quando estão estudando, quando estão concentradas ou não, quando estão falando. Pegam no colo e carregam, como um chaveirinho, para outro lado, para fazer outra coisa. Imagine se alguém fizesse isso contigo, qual seria a sua reação?
É profundamente frustrante. Primeiro, porque atrapalha a nossa atividade e concentração, depois porque é um ato de grande desrespeito e desconsideração pelo outro. Ou seja, é demonstrar que o seu interesse é mais importante que o que quer que ele esteja fazendo.
Maria Montessori escreve, em seus livros, que não devemos interromper a aprendizagem espontânea e a concentração, ainda que seja para elogiar, corrigir ou restringir. É desrespeitoso para com a criança e pode causar constrangimento, desconcentração, vergonha ou mesmo fazer com que ela perca interesse no que está fazendo.
A neurociência diz que quando crianças mais novas estão empenhadas em fazer coisas (fisicamente, como montar uma torre de legos), o seu neocórtex no cérebro está sendo ativamente construído. Essa construção é um trabalho árduo e requer grandes blocos de tempo ininterruptos, dirigidos por crianças.
Em bom português: deixa o(a) menino(a) brincar!
2 - Inclua a criança nas tarefas domésticas
O método Montessori é principalmente sobre criar crianças autônomas e independentes. Em um de seus livros, Montessori diz que a pessoa verdadeiramente independente é aquela que não precisa que outros façam suas tarefas por si.
Ou seja, quem precisa que outro lhe arranje os sapatos, trate das roupas, cozinhe, etc., é na verdade uma pessoa dependente, que depende de outros.
Nas escolas montessorianas, onde Maria Montessori primeiro desenvolveu sua pedagogia científica através da observação, as crianças eram todas responsáveis, por exemplo, por colocar a mesa para as refeições: pratos, guardanapos, talheres, copos. Como também por levantar a mesa depois de comer e manter todo espaço comum arrumado e minimamente limpo.
Participar nas tarefas domésticas não são um suplício para as crianças. Na verdade, os pequenos normalmente estão muito interessados em partilhar esse mundo com os adultos. Demonstram ativamente interesse em aprender a dobrar roupa, a cozinhar, a ajudar.
Participar nas tarefas domésticas ensina às crianças a serem independentes para cuidarem de si próprias, mas também a importância de cuidar do espaço comum quando convivemos em comunidade.
No fazer, elas adquirem competências que certamente irão utilizar na vida adulta, como: preparar refeições, limpar e organizar. E, claro, quanto mais gente partilhando as tarefas domésticas, mais rápidas elas acabam, o que também reduz o estresse familiar!
3 - Rodízio de Brinquedos
Não é raro ver quartos de crianças abarrotados de brinquedos. Ganham nos aniversários, no natal, dia das crianças, na visita de um familiar ou amigo querido… O fato é que logo a criança tem tanto brinquedo que acaba por nem sequer aproveitar ou brincar com todos, além de perder o interesse rapidamente.
O problema, é claro, não é só todo o desperdício de brinquedos (e o fato de ser difícil para a própria família gerir e armazenar isso), mas principalmente porque isso acaba se tornando desestimulante. A criança é constantemente distraída pelo mar de brinquedos, o que desestimula a sua curiosidade para explorar a fundo cada um dos brinquedos e desenvolver, então, a sua aprendizagem com foco e concentração. Como escreveu o educador montessoriano Gabriel Salomão:
“A ordem do ambiente físico é a primeira a que podemos nos atentar. (…) No começo, até os dois ou três anos, mais ou menos, a ordem depende totalmente de nós. Três vezes por dia é necessário reorganizar tudo. A partir dessa idade, entretanto, quando a criança já consegue carregar suas coisas, pode nos ajudar – só é necessário lembrá-la todas as vezes, até os seis anos de idade às vezes, de que precisa guardar o que pegou. Para funcionar, é claro que nós temos de agir exatamente da mesma forma. Um adulto que faz bagunça cria crianças que sabem trabalhar em equipe: bagunçam junto.“
– “Períodos Sensíveis IV: Detalhes e Ordem”, no site Lar Montessori
O rodízio de brinquedos é uma ótima solução para lidar com isso. O rodízio consiste em selecionar apenas um conjunto de brinquedos para deixar exposto para a criança brincar, enquanto os demais ficam guardados longe das vistas da criança.
Use o ambiente a seu favor para dispor os brinquedos selecionados para o rodízio: organizados em cestas ou caixas, dispostos numa prateleira na parede ou usando estantes baixas de cubos. É importante que a arrumação esteja ao alcance da criança para que ela também possa arrumar depois.
4 - Cantinho da Paz
Também chamado “Tapete da Paz” ou “Mesa da Paz” (depende de como você vai montar o espaço), essa é uma proposta montessoriana que, pedagogicamente, é muito melhor e mais saudável que o infame “cantinho da disciplina”.
Como já mencionado, um dos pilares do método montessoriano é a “Educação para a Paz”. Maria Montessori era muito transparente sobre o uso de recompensas ou castigos para “corrigir” e “doutrinar” a criança: “Recompensas e punições são os piores inimigos do desenvolvimento natural da criança“, escreveu a Dra. Montessori no seu livro “A Criança”. E, de fato, oferecer um prêmio em troca da criança fazer algo que queremos ou castigar por não obedecer é mais sobre coagir e ameaçar do que sobre educar.
O objetivo do Cantinho da Paz é criar um lugar acolhedor para resolver conflitos e para que a criança encontre a paz. Ele é um porto seguro onde as crianças podem se comunicar para resolver problemas, para dialogar sobre situações que a fizeram sentir chateada, triste ou com raiva através do respeito e paciência.
O cantinho da paz pode ser em qualquer lugar da casa, desde que seja um espaço tranquilizador. Você pode criar esse cantinho de forma bastante simples: um tapete no chão com almofadas pode ser suficiente. Ou uma mesa com cadeiras ou um lugar com pufes.
É importante, entretanto, haver a clara distinção entre o espaço da paz e a área de brincar ou de estudar. Para dialogar, usamos um ‘token’, como uma flor ou uma varinha ou até mesmo um boneco pequeno. Algo que simbolize a vez de falar. E só um pode falar de cada vez, de modo que todos ouçam, não apenas falem. Recomendo dar uma olhada no nosso artigo sobre Comunicação Não-Violenta, que pode ser uma ótima combinação com o Cantinho da Paz!
Para saber mais sobre o Cantinho da Paz, veja aqui Como criar um cantinho da paz