O que fazer, como fazer e o que NÃO fazer na Introdução Alimentar do seu bebê.
Então chegou o momento da introdução alimentar… Que emoção!
Além de ser uma nova fase para a criança (e nós, mães, vibramos a cada uma dessas fases), é também a promessa de uma lufada de liberdade. Afinal, a criança não será mais dependente exclusivamente do peito, do leite materno, e isso é definitivamente um marco para todas as mães que amamentam!
Claro, isso gera alguma expectativa e ansiedade, o que pode acabar atrapalhando ou fazendo com que os pais comecem a introdução mais cedo que o recomendado, expondo o bebê a muitos riscos de saúde.
Por outro lado, também é preciso lembrar que muitas vezes a introdução alimentar antes da hora não é exatamente uma decisão precipitada de pais entusiasmados, mas sim uma necessidade imposta por fatores econômicos e sociais externos:
- Licença maternidade que acaba antes dos 6 meses;
- Pressão familiar desencorajando amamentação (“até quando esse bebê vai ficar no peito?”, “está na hora de começar a comer”, “seu leite é só água, tem que dar comida”…)
- A entrada necessária do bebê na creche (com o fim da licença); ou
- Mau aconselhamento pediátrico;
Sabendo que esses obstáculos são reais e nos ultrapassam, a primeira recomendação é: sempre que puder evitar a introdução alimentar antes dos 6 meses de vida do bebê, evite.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda a amamentação exclusiva até os 6 meses de idade, mesmo que seu filho tome fórmula, não só leite materno.
Se é mãe e tem que voltar antes dos 6 meses ao trabalho, uma boa alternativa é ordenhar leite e estocar para oferecer ao bebê enquanto você estiver fora e enviar o leite materno (bem armazenado) para a creche. Pode ler também sobre o amparo legal para mães trabalhadoras que amamentam aqui.
Então antes de entrar nas dicas para a introdução alimentar, vamos rever algumas coisas que são importantes ter em mente? Vamos!
Riscos da Introdução Alimentar Precoce
Até o sexto mês, o leite materno é TUDO que seu bebê precisa. Nem água, nem suco, nem chá. Só leite materno!
Antes disso, o sistema digestivo do bebê ainda não está preparado para digerir outros alimentos. Passado esse período acostumando com o leite materno, o organismo da criança estará mais forte para combater eventuais infecções ou alergias decorrentes da alimentação variada — que, acredite, é muuuuito comum!
O site A Nutricionista listou alguns bons motivos para não introduzir sólidos antes dos 6 meses:
- Aumento do risco de alergia alimentar: alguns alimentos são considerados especialmente alérgenos, como ovos, peixes, oleaginosas, frutas cítricas e leite de vaca, sendo este último responsável por 20% das alergias alimentares. O consumo precoce desses alimentos desencadeiam reações imunológicas, fazendo com que a criança desenvolva quadros alérgicos e de intolerância alimentar.
- Diarreia: Muito comum pelo consumo de alimentos muito ricos em amido, além do contato do organismo do bebê com bactérias presentes nos alimentos devido à contaminação destes durante a preparação.
- Doenças como asma, pneumonia e demais infecções: causadas pelo contato do organismo da criança com proteínas diferentes daquelas encontradas no leite humano, e a diminuição da imunidade do bebê (pois o leite materno fornece anticorpos que protegem a criança).
- Deficiência de absorção de nutrientes: o excesso de amido e de vegetais dificultam a absorção de alguns nutrientes (como ferro e zinco, por exemplo), causando deficiência de crescimento e até mesmo desnutrição.
Agora que já sabemos disso, vamos ao que (também!) interessa =)
Por onde começar a Introdução Alimentar? Papinhas e sucos?
Lembro que quando eu estava prestar a começar a introdução alimentar do meu filho, a maioria das fontes que lia indicavam começar por papinhas e sucos. Na verdade, essa não é uma boa ideia.
3 motivos para NÃO começar a introdução alimentar do bebê com suco:
- Ao processar a fruta, destruímos as suas fibras que são excelentes e essenciais para o funcionamento do intestino;
- Prejudica o estímulo à mastigação;
- Absorção de maior quantidade em menos tempo da frutose (açúcar da fruta), que rapidamente se transforma em glicose e aumenta a quantidade de açúcar no sangue.
Também não é indicado peneirar o suco pelos mesmos motivos. Vale ressaltar que a frutose pode ser tão ruim pra saúde quanto o açúcar branco.
Outra lembrança que tenho muito presente de quando estava grávida é da minha doula recomendando ir com calma nas frutas porque, em grande quantidade, podiam alterar a minha curva glicêmica justamente por conta da frutose! Ou seja, se consegue alterar até mesmo os níveis glicêmicos de um organismo adulto, habituado à alimentação variada e sólida, imagine o corpo de um bebê que em toda a sua vida fora do útero só conheceu o leite materno…
Contrarrecomendações de Organizações de Saúde à Introdução de Sucos para Bebês
O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) e a Academia Americana de Pediatria (EUA) concordam que sucos não devem ser oferecidos para crianças menores de 6 anos, pois não trazem nenhum benefício.
O Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da Austrália (NHMRC) e a Health Canada são ainda mais rigorosos: são desnecessários e não recomendados para crianças até 12 MESES de idade.
A Academia Americana de Pediatria ainda alerta que o consumo excessivo de sucos pode estar associado com diarreia, flatulência, distensão abdominal e cárie dentária, além de subnutrição!
E as papinhas? Papinha pode?
O pediatra espanhol Carlos Gonzalez, autor de vários livros e fundador da Associação Catalã de Amamentação, explica que estamos fazendo tudo errado.
O erro, explica o médico, começa quando trituramos as comidas para dar em formato de papinhas na introdução alimentar dos bebês. Segundo ele, há crianças que chegam aos 2 anos sem saber mastigar ou que têm ânsia pois não sabe lidar com pedaços sólidos de comida. (fonte aqui)
É verdade que dae papinha para a criança pode ser mais fácil: não suja, ela come e engole. A criança é totalmente passiva no processo.
Além disso, na correria contra o tempo que a maioria das mães vive diariamente, entre trabalho e maternagem, às vezes é tentador recorrer às papinhas prontas, vendidas como soluções saudáveis e milagrosas (e que dispensam o trabalho doméstico chato de preparar papa todo santo dia).
Dar papinha pode ser fácil, mas dar a fruta é instigante! A criança toca, sente a textura, experimenta com todos os sentidos antes de começar a comer: pega, sente o cheiro, contempla com os olhos, descobre a fruta e, por fim, come. Isso torna o processo muito mais interessante para o seu bebê e, assim, facilita a introdução alimentar ao transformar o momento de comer numa experiência curiosa e prazerosa!
Dicas para começar a Introdução Alimentar
Então, vamos ao que interessa. Sem papas e sem sucos, como começar? Algumas boas práticas a levar em consideração:
- A introdução alimentar só deve ser feita quando a criança souber sentar sozinha, sem ajuda. Isso evita os riscos de engasgo e mostra um corpo que consegue reagir caso isso aconteça.
- A criança deve demonstrar, ativamente, interesse em provar alimentos.
- Nada de papinhas no primeiro mês! Os alimentos devem ser apresentados para a criança pegar e comer por si mesma, sem ajuda do adulto (ou seja, sem ficar colocando na boca dela).
- Ofereça apenas uma fruta ou legume por dia. Isso ajudará a avaliar possíveis reações alérgicas e, se identificar alguma, saberá qual alimento causou a alergia e poderá tirá-lo do cardápio.
- Não coloque nada na boca da criança: ela deve se interessar e pegar o alimento. Isso também vai ajudar no seu desenvolvimento motor, na coordenação e movimentos de pinça. Se tiver interesse, existe um método incrível para isso chamado método BLW (ver mais abaixo).
- Não existe “comer muito” ou “comer pouco”. Essa é só a introdução alimentar, uma fase de iniciação e transição. O bebê come a quantidade que quiser.
- Não insista persistentemente caso o bebê recuse. Uma vez, duas vezes… nunca uma terceira. Tornar a alimentação frustrante é meio caminho andado para que seu bebê recuse definitivamente aquele alimento.
O que é o método BLW?
BLW é a sigla para “baby-led weaning”, que em português significa, em tradução literal, “desmame guiado pelo bebê”. Resumidamente, é uma técnica para fazer a introdução alimentar fundamentada no desenvolvimento da autonomia do bebê, sempre levando em consideração a sua segurança e bem-estar.
O método BLW consiste em possibilitar que o bebê conduza a sua própria alimentação, usando as próprias mãos, num cenário orientado pelo adulto, claro. Por favorecer a autonomia e tornar a experiência de alimentação em algo agradável e interativo, favorece um desmame natural e gradual, respeitando o tempo do bebê (daí o nome).
Se quiser aprofundar nesse método, recomendo o curso online de Introdução Alimentar — BLW + APLV, organizado por três nutricionistas aprofundados em APLV (alergia à proteína do leite de vaca).
Porém, se não tiver tempo de fazer um curso agora, também pode recorrer a livros que ensinam como fazer a introdução alimentar do bebê seguindo o método, com imagens e dicas práticas e passo-a-passo de como preparar e oferecer os alimentos e quais cuidados ter. Eu recomendo esses:
- Amamentação e Guia da Introdução Alimentar, da nutri Inah Carraro
- E-book Introdução Alimentar, da nutri materno-infantil Alinne Garcia
Quais frutas oferecer na introdução alimentar?
Comece com as frutas de sabores mais suaves e com maior composição de líquido para facilitar a vida do bebê.
Sugestões de primeiros alimentos: melão, melancia, banana, batata cozida, mandioquinha salsa.
Quais alimentos evitar na Introdução Alimentar do bebê?
- Frutos cítricos: abacaxi, tomate, framboesa, romã;
- Frutos gordos ou com propriedades laxantes: mamão, abacate, figo;
- Uvas e frutos secos;
Outros alimentos NÃO RECOMENDADOS pelo Sistema de Saúde Pública britânico para a Introdução Alimentar de bebês
- Mel;
- Bebidas à base de arroz;
- Queijo;
- Açúcar;
- Sal: salsichas, bacon, bolachas de sal;
- Mariscos: camarão, amêijoa, ostras, mexilhão;
Dicas gerais da minha experiência de mãe pelo bem da sua sanidade mental:
- Esqueça os cadeirões de papinha. Coloque a criança no chão, preferencialmente numa bacia grande ou sobre um tapetinho descartável (como aqueles tapetinho de cachorro, por exemplo). Acredite, você vai me agradecer por isso. É mais fácil de limpar depois e é menos frustrante, pois a criança terá mais liberdade de movimento.
- Coma junto. Funciona com gente grande também, né? Às vezes, a gente nem queria, mas ver o outro comendo é o melhor remédio para abrir o apetite!
- Abstraia e não estressa. Se comer, comeu. Se não comeu, de fome não morre. Às vezes, nós, mães, ficamos super preocupadas com coisas que são momentâneas e passageiras. Porque vivemos intensamente de momento a momento, especialmente quando é o primeiro filho. Se seu bebê não quis comer naquele momento, não é o fim do mundo. Lembre que ninguém morre de fome tendo comida em casa. Tente novamente depois.
No mais, a introdução alimentar não é nenhum bicho de sete cabeças. E, sim, a lufada de liberdade é REAL e, em breve, você com certeza vai notar a diferença.
Não sem antes passar pelo conhecido desespero e medo do bebê engasgar, que todas passamos, ou aquele desânimozinho lá no fundo quando ver QUANTA BAGUNÇA um ser tão pequenino consegue fazer só com uma frutinha. Mas, como a maternidade é uma faca de dois gumes, nada disso virá sem uma alegria profunda e deliciosa de ver nossa cria alcançando mais uma etapa de crescimento em direção à autonomia!
Por isso, minha última dica para você, minha amiga mãe, é: relaxa e curte a fase da sua cria
Sobre a autora
Aline Rossi é cuiabana, mãe de um menino serelepe e tagarela, doula de parto e pós-parto, ativista pelos direitos das mulheres e produtora de conteúdos úteis e relevantes para a vida das mulheres.
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