Veja neste artigo o que é a Comunicação Não-Violenta, quais os benefícios e como utilizá-la em casa com os filhos com exemplos práticos!
O que é Comunicação Não-Violenta?
A Comunicação Não-Violenta (CNV) é, basicamente, uma forma de comunicar, com o objetivo de fomentar a conexão, compreensão e compaixão. É um método que proporciona um processo simples, composto de quatro passos, que nos ajuda a expressar nossos sentimentos com transparência e a comunicar nossas necessidades de forma clara, enquanto buscamos manter, ao mesmo tempo, uma conexão com a outra pessoa com quem comunicamos.
O método da Comunicação Não-Violenta foi desenvolvido por um psicólogo chamado Marshall Rosenberg, que investigou e trabalhou esse método por mais de 30 anos, num contexto de lutas por direitos da população negra nos Estados Unidos dos anos 60. E, embora tenha surgido nesse contexto de “luta”, como tem uma aplicação simples pode ser utilizado em basicamente qualquer contexto. Inclusive na maternidade.
Então como poderíamos adotar a Comunicação Não-Violenta em casa, com nossos filhos? E quais os benefícios? Por que utilizar a Comunicação Não-Violenta? Vejamos!
Por que usar a Comunicação Não-Violenta com nossas crianças?
Uma das maiores causas de frustrações e estresse nas relações familiares é a comunicação. Pense sobre isso um segundo e visualize essa cena comigo:
Hora de dormir. A criança não quer. A mãe, como um primeiro passo, usa todos os argumentos que tem para convencer seu filho ou filha. A criança rejeita conversar: ela sabe que não é um diálogo igual e sabe que tem menos poder naquela troca. Então, a criança usa as únicas armas que possui contra os “adultos-todo-poderosos”: choro, grito e resistência. Isso rapidamente escala para berros, choro e criança esperneando no chão, de um lado. E uma mãe esgotada, arrancando os cabelos e fazendo ameaças do outro lado.
Isso é uma cena muito comum e que quase nunca acaba como nós, mães, queremos. Não é raro que essa cena desenrole para uma agressão contra a criança e formas de comunicar muito violentas: No fim, ficamos nós com a culpa materna, a cabeça explodindo, esgotadas para fazer qualquer outra coisa proveitosa e uma criança que foi dormir chorando e soluçando.
Mas também podia ser uma cena cotidiana sobre uma criança que recebeu uma ordem para fazer uma tarefa e isso escala para uma briga. Ou sobre uma mãe dizendo algo que o filho não pode fazer e o filho ou filha iniciando um espetáculo de resistência, geralmente rotulado como “birra”.
São todas situações de grande estresse e frustração, que muitas vezes resultam em agressões contra o lado mais fraco (a criança) e um horrível sentimento de culpa materna para a mãe.
A Comunicação Não-Violenta ajuda não só a evitar essas situações frustrantes, como também estabelece um ambiente mais saudável e amigável para o desenvolvimento emocional e psicológico da criança — e, consequentemente, para a saúde da mãe e da família como um todo. Afinal, todas sabemos, essas situações afetam a todos em casa.
Qual a importância da Comunicação Não-Violenta?
A Comunicação Não-Violenta (CNV) nos ajuda a sair da superfície e aprofundar em nossos sentimentos e pensamentos para descobrir o que é realmente vital dentro de nós, bem como expressar o que nos é importante de uma forma que gera conexão, cooperação e compaixão. Isto é, pode ajudar a prevenir conflitos e a resolvê-los pacificamente.
Assim, quando aplicamos o método em casa podemos falar de uma Educação Não-Violenta. Um educar voltado não para o autoritarismo, o medo, o grito e a disputa de poder, mas a escuta ativa, a compreensão, o diálogo e o respeito mútuo.
Benefícios da CNV para Famílias
– Reduz os conflitos familiares e a rivalidade entre irmãos
– Fomenta um relacionamento de cooperação e confiança no seio familiar
– Protege e nutre a autonomia das crianças
– Motiva usando estratégias de “poder-com” em vez de “poder-sobre”
– Ajuda a prevenir futuras dores e mal-entendidos
– Transforma julgamento/crítica em compreensão/conexão
– Ensina as crianças e adultos a ouvirem ativamente
– Ajuda a alcançar seu objetivo sem usar de exigências, culpa ou vergonha
– Ajuda a compreender as necessidades por trás das palavras e ações
– Identifica os gatilhos da raiva e ajuda a encontrar soluções para a gerir;
Os Quatro Passos da Comunicação Não-Violenta
A Comunicação Não-Violenta é um método simples que segue quatro passos: Observar sem Julgar, Dar nome aos Sentimentos, Identificar Necessidades e Pedir com Clareza.
Observar Sem Julgar
Quando vimos alguém fazer algo que não atende nossas necessidades, fazemos essa observação de uma maneira neutra e sem julgamentos. Ou seja, sem rotular, culpar ou rebaixar a outra pessoa.
Por exemplo:
Invés de: “Você nunca faz nada direito!” (observação crítica pejorativa que culpa a criança)
Diga: “Quando você faz isso…” (inicia uma conversa sem rotular a pessoa).
Nomear Sentimentos
Ao praticarmos a CNV, aprendemos a expressar como estamos nos sentindo em relação ao que estamos observando. E, mais uma vez, isso deve ser feito sem culpar ou rotular de forma alguma. Quando conseguimos dar nomes aos nossos sentimentos, fica mais fácil entender quais são as necessidades não-atendidas por trás desses sentimentos.
Por exemplo:
Invés de: “Você só me dá dor de cabeça!”
Diga: “Quando você faz isso, eu me sinto chateada”
Identificar Necessidades
As necessidades demonstram quais são nossos valores. Elas são a fonte de nossos sentimentos, especialmente quando não são atendidas.
Por exemplo:
Invés de: “Você só faz bagunça!”
Diga: “Quando você molha todo banheiro, a mamãe tem que gastar mais tempo limpando e fica muito cansada.”
Pedir com Clareza
São ações positivas que você gostaria que alguém fizesse e que ajudassem a responder suas necessidades. Mas atenção: pedidos não são exigências! Essas ações precisam ser específicas, acionáveis e não podem ser imbuídas de culpa ou manipulações. Os pedidos da CNV se concentram no que você quer, não no que você não quer.
Por exemplo:
Invés de: “Se você gritar mais uma vez, eu vou te deixar aqui sozinho”.
Diga: “Poderia falar mais baixo? Quando você grita, a minha cabeça dói.”
É importante lembrar que por mais que, assim como nós, as crianças aprendam sobre comportamento e exemplos em diferentes lugares (escola, com os amigos, nas atividades livres), muito da maturidade emocional é desenvolvida em casa. O núcleo familiar, especialmente a figura da mãe ou do pai, ainda são os exemplos mais próximos e caros para as crianças. Aqueles que elas vão imitar ou recusar.
Portanto, a prática de uma comunicação e educação não-violenta para crianças mais saudáveis emocionalmente e psicologicamente começa em casa. Certamente não podemos controlar como as pessoas fora de casa se comunicam com nossos filhos, mas podemos controlar como nós nos comunicamos. Então comecemos por aqui.
Referências bibliográficas: