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Dica: o parto domiciliar de hoje não tem nada a ver com o parto da sua avó há 50 anos atrás.

Quando falamos em parto domiciliar ou “parto em casa”, muita gente ainda pensa naquela imagem dos anos 50, com uma mulher dando à luz em desespero enquanto alguém corre à cavalo para buscar uma parteira rechonchuda com seus panos quentes e úmidos nos confins do mundo.

Mas o mundo já mudou muito… e o parto também! E nada podia estar mais longe da realidade do parto domiciliar hoje do que o parto em casa de há 50 anos atrás!

meu parto domiciliar na água
Meu próprio parto domiciliar planejado, em Cuiabá (2014), com minha doula Tuanny Godoi.

Eu tive um parto domiciliar no Brasil. Ouvi todo tipo de comentários: que eu estava louca; histórias sobre mulheres desconhecidas que tinham morrido ao ter um parto em casa lá no Cafundó do Judas. Algumas vizinhas até organizaram círculos de oração para rezar por mim.

Meu parto foi o momento mais íntimo e maravilhoso que já me aconteceu. E mudou profundamente minha forma de ser, estar e encarar a vida.

Estávamos apenas eu, minha sobrinha, minha doula, a enfermeira obstetra (parteira) e a enfermeira neonatal. E, claro, todos os seus materiais necessários — incluindo um enorme cilindro de oxigênio, balança e afins.

Depois dessa experiência, nunca mais consegui me imaginar parindo num hospital. Também resolvi tirar um curso de Doula de Parto para ajudar que mais mulheres pudessem ter a experiência que eu tive. Acompanhei aquela mesma sobrinha no seu próprio parto domiciliar um ano depois e mais umas quantas “doulandas” em seus partos planejados, dos quais lembro com muito carinho.


Relatei isso para, em primeira mão, desmistificar um pouco qualquer imagem que a leitora ou leitor possa ter sobre o parto domiciliar. Agora vou responder diretamente às suas dúvidas.

O que é um Parto Domiciliar?

Parto domiciliar é o parto que ocorre em ambiente doméstico, ou seja: em casa. Também é chamado de “parto domiciliar planejado”, uma vez que é cuidadosamente preparado e planejado, com cuidados rigorosos e geralmente acompanhados por uma equipe multidisciplinar profissional especializada.


Ou seja, nada a ver com o parto em casa das nossas avós!


Embora existam muitos mitos sobre parir em casa, as evidências científicas são favoráveis e os benefícios de um parto domiciliar planejado bem assistido podem ser enormes para a mãe, o bebê e toda a família.


Um bom exemplo é a
revisão bibliográfica de estudos científicos realizada por pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Sydney, na Austrália, chegou à conclusão que não existe nenhum risco acrescentado ao parto domiciliar relativamente ao parto hospitalar.

O mesmo estudo também concluiu que não existe diferença significativa no número de óbitos fetais e neonatais entre partos domiciliares e partos hospitalares, portanto, essa ideia de que “no hospital é mais seguro porque pode precisar de alguma coisa” não é cientificamente acurada.

Benefícios do Parto Domiciliar

Segundo o estudo, alguns dos benefícios do parto em casa comparativamente ao parto em ambiente hospitalar são:

  • Tem menos 65% de chance de terminar em cesárea;
  • Tem 15% mais chances de passar pelo parto com períneo íntegro;
  • 43% menos chances de sofrer lacerações perineais graves;
  • Diminui o risco de hemorragia pós-parto em até 23%;
  • Reduz em até 63% as chances de intervenções médicas no parto (como fórceps);


Vale lembrar que muitas das complicações no parto, no Brasil, estão relacionadas à má assistência e excessiva intervenção médica e não a alguma coisa imprevisível que naturalmente deu errado.

De acordo com a pesquisa Nascer no Brasil, realizada com 23.894 mulheres entre 2011 e 2012, apenas 5% das mulheres no país tiveram um parto normal sem intervenção médica. Para ter uma comparação, na Grã-Bretanha esse índice é de 40%.

Além disso, mais da metade das mulheres entrevistadas relatou ter sofrido uma episiotomia, o famoso “pic”, que é uma técnica defasada e altamente questionada na comunidade obstétrica e científica atualmente.

Quem pode ter um parto domiciliar?

Apenas gestantes consideradas de baixo risco podem optar pelo parto domiciliar. Isto é, precisa ser uma gestação a termo, sem doenças desenvolvidas durante a gestação ou indicação de patologias (pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, descolamento de placenta, etc). Além disso, geralmente as equipes de parto estabelecem como pré-requisito que haja um hospital próximo da casa onde será o parto, caso seja necessária uma transferência.

Quanto custa um parto domiciliar?

Geralmente, rondam entre os R$ 4000,00 e R$ 10.000,00 reais, dependendo da região, do que está incluído no atendimento e também da equipe envolvida. Na prática, os valores são semelhantes aos de um parto normal ou uma cesárea na rede privada de saúde. Nós temos um texto sobre isso aqui no site, com valores relatados em várias cidades do Brasil. Clique aqui para ler: Quanto Custa um Parto Domiciliar?

Parto domiciliar é o mesmo que parto humanizado?

Não exatamente. Partos hospitalares também podem ser humanizados. O termo “humanizado” depende não do local de parto (em casa ou na maternidade), mas sim da assistência que é prestada à mulher parturiente e ao bebê na hora do nascimento. É uma assistência baseada em evidências científicas atuais, em respeito e dignidade à soberania da mulher e que tem atenção ao protagonismo da mulher no parto.

A doula está incluída na equipe de parto domiciliar?

Nem sempre. É possível contratar uma equipe de parto domiciliar que já tenha doula incluída, mas geralmente a doula é uma prestadora de serviço à parte que deve ser selecionada pela gestante. O ideal é conversar pessoalmente e consultar diretamente a equipe de parto para tirar essas dúvidas. Clique aqui para ler nosso guia prático sobre doulas.

A doula está incluída na equipe de parto domiciliar?

Não. Infelizmente, o Brasil parece resistente a seguir as práticas dos países mais avançados na área de humanização do parto e obstetrícia. Em alguns países, é possível ter um parto domiciliar pelo sistema nacional de saúde ou financiado pelo Estado, como acontece na Holanda (onde 20% dos partos foram domiciliares em 2014) e Noruega.

No Brasil, o mais próximo que temos disso são as Casas de Parto, como é o exemplo da Casa Angela, um projeto que foi, de todo, fruto de luta de mulheres profissionais e ativistas do parto humanizado.

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