O ruído por excesso de informação pode ser tão danoso quanto a falta de informação. Eu já fui gestante e já acompanhei gestantes como doula. Essas são as dicas que eu gostaria que TODA mulher soubesse.
1. Estude sobre o parto
Seja seu primeiro ou seu quarto filho, cada parto é único e você nunca mais vai esquecer do seu parto. Só para dar um exemplo próximo e real, a bisavó do meu filho, no auge dos seus 96 anos, sabia contar com detalhes ricos e pormenores sobre cada um dos seus três partos (que tinham acontecido há mais de 60 anos atrás). E o parto pode ser lembrado como o momento mais poderoso e transformador da sua vida, não precisa ser uma luta dolorosa.
Estar preparada para o parto não faz milagres, mas vai, em grande medida, devolver-lhe o controle sobre a situação. É difícil enganar e manipular uma mulher que sabe quando estão mentindo para ela, que sabe reconhecer uma falsa informação. E quando digo estude não é só onde é o melhor lugar para ter o parto, que tipos de parto existem nem qual a melhor equipe ou o melhor obstetra.
Procure entender como acontece o parto e quais são as fases do parto. Pesquise sobre violência obstétrica, o que se encaixa como violência, como reconhecer e como denunciar, se for preciso. Com quem você pode contar e como deve fazer (em caso de violência obstétrica). Pesquise sobre indicações reais de cesárea e também falsas indicações, sobre os procedimentos que você pode recusar e sobre o que é um plano de parto.
Veja também o que fazem com o bebê depois que ele nasce, o que pode ou não pode ser feito, o que é normal e o que é recusável e até onde você pode exigir (veja, em especial, sobre o colírio de nitrato de prata, a vitamina K12, o contato pele a pele, o corte tardio do cordão umbilical e a amamentação na primeira hora de vida).
Se puder, tenha uma doula. Ela não presta o mesmo acompanhamento que o seu companheiro ou sua mãe ou sua melhor amiga. Ela é uma profissional treinada para centrar todos os esforços, conhecimento e atenção em você e na sua experiência no parto. Aqui tem um guia sobre doulas para ajudar, caso não conheça a profissão.
Se não encontrar doulas na sua cidade, sugiro fortemente fazer um curso de preparação para o parto. Pode até ser online! Isso ajudará a orientar os estudos pelas mãos de quem realmente sabe o que transmitir, quem tem experiência e não vai passar aquela sensação de “excesso de informação”, que pode ser imobilizadora também.
2. Entenda como funciona a amamentação e a quem pode pedir ajuda
Amamentar é natural, mas também é um ato aprendido. Ela nem sempre acontece mágica e espontaneamente, como esperamos que seja depois de parir. Você pode não saber automaticamente o que fazer, como segurar o bebê e o seio. Se tem uma coisa que eu aprendi é que “certeza” é uma palavra que não existe no pós-parto.
Dito isso, estude sobre os problemas, mitos e dificuldades mais comuns na amamentação e o que está ao seu alcance fazer para evitar ou contorná-los. Veja também quem são as pessoas qualificadas para procurar ajuda, como as Consultoras de Aleitamento Materno (CAM) ou o Banco de Leite da sua cidade.
E, só para que tenha conhecimento desde já, saiba que é possível voltar a amamentar depois de ter parado. Esse processo se chama relactação e uma CAM pode te ajudar com isso.
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3. Leia sobre o puerpério e o pós-parto
Não saber o que acontece com seu corpo após o parto pode ser muito frustrante e causar muito desgaste emocional e físico. É importante saber como os hormônios podem e vão afetar o seu humor, seu sono e sua saúde após o parto. Por quê? Porque entender isso ajudará para que você não caia na armadilha da culpa materna, que de uma forma ou de outra sempre nos faz procurar a culpa em nós.
No que fizemos de errado. “Por que comigo é assim?”, “por que eu sou assim?”, “por que senti isso ou deixei de sentir?”.
Conhecer seu corpo e conhecer os processos é exercer a sua autonomia sobre si mesma! E isso é essencial para não estar (tão) à mercê de manipulações e chantagens emocionais machistas que virão das pessoas ao seu redor.
Sugiro dar uma estudada, especialmente, sobre o blues puerperal, a depressão pós-parto e a libido após o parto. Além disso, também vale a pena ver o que acontece no pós-parto em caso de cesárea, como isso afeta os seus hormônios e a saúde mental.
Caso você já tenha algum tipo de dificuldade relativamente à saúde mental (ansiedade, bipolaridade, tendência depressiva, etc), recomendo fortemente o curso de Saúde Mental na Maternidade, das psicólogas Carolina Adani e Dominique Alves. É um curso acessível e com muita informação boa para se preparar para o parto e maternidade!
4. Participe de rodas de gestantes e preparação para o parto
Sei que continuar repetindo “estude”, “leia”, “pesquise” soa um pouco excessivo. Aliás, é até assustador, pois, sendo uma área médica, a primeira impressão é que teremos de analisar pesquisas científicas e, sejamos realistas, nem todas nós estamos acostumadas a isso. É preciso um certo plano de fundo para conseguir ler artigos científicos, não é uma leitura fácil nem gostosa.
Embora conseguir beber direto da fonte seja excelente, nenhum desses estudos e pesquisas que sugeri acima implica ir analisar artigo científico de doutores e pós-doutores. Refiro-me à fazer pesquisa de Internet mesmo. Visitar sites de doulas e parteiras, acompanhar as publicações e o blog da Dra. Melania Amorim ou da Casa da Doula.
Atualmente, existem várias doulas, educadoras perinatais e parteiras que mantêm canais no Youtube com vídeos pedagógicos, assim como no Instagram. São boas fontes de informação para começar. Vale muito a pena.
Aqui no Vila Materna existem várias publicações que podem ajudar a se preparar para o parto e compreender as fases, os processos e as consequências. Temos textos sobre Gravidez, Parto e Maternidade.
Preparar-se faz toda a diferença!
Você pode viver seu parto ativamente, como a principal interessada e a própria protagonista desse evento, ou você pode se contentar com o lugar passivo de sofrer a ação, ser a gestante a quem a equipe médica “faz o parto”. A diferença é ENORME. Deixe para ler sobre pedagogia Montessori, Parentalidade positiva e Shantala mais para frente, ok?
Ah, e uma última observação: não caia nessa de sexualizar até o momento de parto. Esquece essa neura de sentir que sua principal responsabilidade é “ter que ser bonita” até no momento mais transformador ou vulnerável da sua sexualidade, o parto. Parto é instinto animal: tem sangue, tem cocô, tem berro, tem choro.
Não deixe que as pressões estéticas de uma sociedade machista atravessem o seu momento.