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Qual o salário da doula? A Doula de Parto deveria atender gratuitamente?

 

Se chegou até aqui, das duas uma: ou você está pensando em como ser doula ou está grávida e pretende contratar uma para o seu parto e o preço é uma das suas dúvidas. Seja qual desses for o seu caso, vamos ao que interessa: quanto ganha uma doula? Quanto cobra por cada doulagem?


Esse artigo é sobre o Brasil. Se está em Portugal, pode ler aqui Quanto Ganha uma Doula em Portugal?

 

Qual o salário da Doula?

 

É importante referir que a Doula não tem salário. Poderíamos falar do “salário da doula” caso a doula, enquanto profissional, fosse uma funcionária emprega pelo hospital ou até mesmo pelo plano de saúde. Ou seja, uma prestadora de serviços empregada por uma instituição ou entidade. No Brasil, na maioria das vezes, esse não é o caso.

 

Embora isso comece, lentamente, a ser uma realidade em alguns países e talvez possa ser o nosso futuro próximo, atualmente a Doula atua principalmente de duas formas:

 

  • Como profissional autônoma (e, nesse caso, a grávida ou família contrata a doula e paga de forma particular); ou
  • Como doula voluntária em um projeto social da instituição ou terceiro, ou é voluntária por iniciativa própria;
Primeira turma de Doulas conclui curso de formação, em Balsas - Diário Sul  Maranhense
Foto de uma turma de um curso de formação de doulas voluntárias no Maranhão. Fonte: Diário Sul Maranhense

Doula Voluntária vs. Doula Autônoma

 

No caso da doula que é voluntária numa instituição, geralmente o serviço é oferecido gratuitamente dentro de um contexto específico. Por exemplo, alguns hospitais no Brasil já têm projetos de doulas voluntárias internas. Nesses casos, a doula não cobra o serviço à gestante, mas assiste apenas no momento do trabalho de parto, como plantonistas.

 

Nos casos das doulas que fazem voluntariado por iniciativa própria (muito comum entre doulas de parto que estão em final de formação, ou seja, em início de carreira), pode ser que façam o acompanhamento completo gratuitamente, isto é, da gestação ao trabalho de parto.

 

Para as doulas autônomas, que são o cenário mais comum no Brasil, geralmente cada doula realiza contratos individuais com a gestante, separadamente. Esse contrato define o preço do serviço, como será o pagamento e o que o valor inclui (como consultas pré-parto, trabalho de parto e pós-parto imediato, pintura de barriga, etc.).

 

Em se tratar de uma doula autônoma, os valores realmente dependem de muitas variáveis e geralmente há alguma flexibilidade para acordar o serviço. Não é raro, por exemplo, doulas aceitarem trocas/permutas pelos serviços caso percebam que a gestante não tem condições reais de pagar pelo acompanhamento. A maioria também divide o valor total do serviço em prestações ou oferece alguma flexibilidade no “pacote de serviços” contratado. É preciso ver tudo caso a caso.

 

Agora vamos responder à pergunta que interessa:

 

Quanto ganha uma doula?

 

Em geral, uma doula de parto cobra entre R$ 800,00 a R$ 2500,00 reais por pacote de atendimento. Esses valores dependem, entre outras coisas:

 

  • distância do atendimento doula/gestante;
  • da experiência da doula;
  • da quantidade de visitas de acompanhamento pré-parto;
  • da quantidade de visitas de acompanhamento pós-parto;
  • dos “adicionais” incluídos no serviço (como pintura de barriga, carimbo de placenta, despedida da barriga, etc);

 

É importante reforçar que os valores podem variar muito de região para região. O Brasil é enorme e o que isso implica é que os custos de vida também são muito diferentes. Por isso, nada mais normal do que haver uma grande variação de valores cobrados por uma doula em São Paulo ou uma doula em Cuiabá.

 

É antiético cobrar? A Doula deveria trabalhar de graça?

doulando
A Doula de Parto oferece apoio informacional, psicológico, emocional e físico na gestação, trabalho de parto e puerpério imediato.

No cenário ideal, nenhuma mulher precisaria pagar para ter uma doula. Esse deveria ser um suporte assegurado pelo Estado, pois esta seria a única maneira de garantir que o acompanhamento da doula fosse um direito de todas e não um privilégio de poucas.

 

Portanto, no mundo ideal, as doulas seriam profissionais enquadradas no Sistema Único de Saúde (SUS) pública, disponíveis para todas as gestantes que precisassem desse suporte. Entretanto, nós não estamos nesse estágio ainda.

 

Infelizmente, poucas são as cidades onde as doulas foram enquadradas nas equipes hospitalares ou em projetos públicos. Dessa forma, a maioria das profissionais precisam pagar pela sua formação, pelo seu curso de doula, pelos seus materiais, pelo seu aperfeiçoamento e bancar as deslocações para atender as gestantes. Claro que, nesse cenário, as doulas só conseguem atender profissionalmente cobrando pelo próprio serviço, como todos os demais profissionais.

 

Muitas gestantes deixam de contratar uma doula ou barganham o preço do serviço da doula porque sentem que, em meio a todas as despesas do parto e da equipe, a doula é a profissional mais dispensável, opcional. Por isso, há inclusive uma ideia de que a doula deveria trabalhar gratuitamente, que seria até antiético cobrar por doular.

 

Na realidade, a doula é a única profissional da equipe de parto que está 100% focada na experiência da gestante. Exclusivamente. Essa é a sua função: oferecer suporte, apoio emocional, físico e informacional para que a mulher grávida tenha a melhor experiência de parto possível.

 

Podemos dizer, assim, que a doula não é um luxo. Na realidade, a figura da doula sempre existiu na história. Como disse o doutor John H. Kennel, “se doula fosse um remédio, seria antiético não receitar.”. E os efeitos positivos da presença da doula são cientificamente comprovados. Especialmente se considerarmos a cultura machista e cesarista que temos hoje, infelizmente.

 

Sobretudo, é importante frisar que a Doula é uma profissional treinada. Para atuar como doula de parto, é preciso passar por uma formação técnica de componente teórica e prática completa, de no mínimo 80h e com certificado de conclusão válido.

 

Não obstante, além da formação a doula precisa estar constantemente se atualizando, acompanhando novos cursos e atendendo a encontros da área da humanização do parto para se manter ao corrente das evidências científicas mais atualizadas para apoiar a gestante no parto. Tudo isso é um investimento na sua formação profissional.

 

Outro ponto é o fato de que, em geral, assim como uma série de profissionais de saúde, a doula deve estar sempre pronta a atender. Ou seja, além do acompanhamento regular, quanto mais perto a grávida está do momento do parto, a doula precisa organizar a sua vida para ficar sob alerta de ser chamada a qualquer momento pela gestante para ir ao seu encontro na eminência de trabalho de parto. Seja isso às 3h da tarde ou às 3h da manhã. Não raramente, a doula também acompanha a gestante noite adentro em trabalhos de parto que podem durar mais de um dia inteiro.

 

Por tudo isso, podemos dizer com toda a segurança que não, não é antiético que a doula cobre pelo seu serviço profissional. É justo e devido não só por todo o seu trajeto e formação profissional, mas também pela sua disponibilidade e esforço que empenha no atendimento das doulandas.

 

Como última observação, é importante refletir o impacto da nossa cultura patriarcal ao apontar que o trabalho da doula tem o dever de ser gratuito.

 

Isso está profundamente enraizado na visão machista de que o trabalho feito por uma mulher (especialmente o trabalho de cuidados). O “trabalho emocional” não é considerado trabalho, mas sim “amor” e “natureza” da mulher e, portanto, a sociedade desvaloriza tudo que entende como “feminino”. Basta ver que as outras especialidades da equipe (obstetrícia, enfermagem e até o fotógrafo) são reconhecidas como profissionais que devem ser remunerados, mas a doula não.

 

Portanto, valorizar o trabalho da doula é valorizar o trabalho das mulheres e avançar na humanização do parto!

 


 

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